NOTÍCIA

      O Ateliê Modelismo e Arqueologia Naval decorreu no dia 4 de Dezembro, Sábado, nas instalações do Núcleo Naval do Ecomuseu Municipal do Seixal.
Os trabalhos iniciaram-se cerca das 10h00 com a recepção dos participantes e dos modelos e terminaram cerca das 18h00.
         Depois das palavras de boas vindas proferidas pelo Dr. Jorge Raposo, o autor destas linhas apresentou uma comunicação sobre o processo de concepção das naus da carreira da Índia na viragem do século XVI para o século XVII que incidiu sobre as potencialidades da iconografia, dos achados arqueológicos, das reconstruções e da documentação técnica coeva para o estudo arqueológico das embarcações dos séculos XVI e XVII.
Após almoço, retomaram-se os trabalhos com a apresentação de um modelo navegante telecomandado de uma canoa da picada, à escala 1/7, da autoria do modelista Carlos Mariano. A apresentação da peça suscitou grande interesse por parte dos participantes que puderam assistir, ao vivo, ao processo de aparelhagem do barco. Discutiram-se as opções construtivas do autor, as condições de navegabilidade deste tipo de modelos e apresentou-se um conjunto de informação significativa sobre as técnicas de modelação utilizadas na construção de barcos à escala bem como sobre as matrizes de concepção e origem deste tipo de embarcações.
Em simultâneo com as actividades de índole formativa, decorreu uma mostra de modelos de embarcações construídas ou em construção, trazidas pelos participantes. Contámos cerca de trinta modelos.
 Regista-se a presença de canoas da picada, enviadas do Seixal e muletas do Seixal produzidas no âmbito dos nossos cursos, mas também é de assinalar vários barcos do Tejo da autoria de participantes externos (duas fragatas, um varino, duas canoas e uma chata). Entre os barcos históricos estava o modelo de uma chalupa de pesca da Bretanha, em estilo de arsenal, uma fragata francesa do século XVIII, duas naus portuguesas do século XVIII, uma nau portuguesa do século XVII, em estilo de arsenal, uma caravela redonda do início do século XV e o modelo do galeão São Paulo que temos actualmente em construção no Núcleo Naval. Alguns participantes trouxeram também protótipos de barcos à vela utilizados em regatas.
Pretendia-se que este ateliê pudesse contribuir de forma significativa para o desenvolvimento de uma cultura de seriedade e rigor no tratamento modelístico das embarcações, especialmente daquelas que, por várias razões, estiveram ou estão ligadas ao Tejo; as apreciações dos vários participantes foram unanimemente valorativas e de uma forma directa ou indirecta permitem concluir que se caminha no sentido de cumprir este objectivo.
Destaca-se, neste ateliê, a articulação dialéctica entre a dinâmica do saber e do fazer, o excelente entrosamento entre a partilha formal e a transmissão informal de experiências, bem como o forte incentivo para a continuidade do desenvolvimento de trabalhos e melhoria qualitativa dos mesmos.
A qualidade dos trabalhos apresentados excedeu aquilo que é habitual, em Portugal, neste tipo de iniciativas.
Salienta-se também o facto dos alunos dos cursos de modelismo do Ecomuseu Municipal terem tido a oportunidade de mostrar os seus trabalhos.
         Entretanto, a 2º Sessão do Ateliê “Modelismo e Arqueologia Naval” está marcada para o dia 12 de Março de 2011, no Núcleo Naval do Ecomuseu Municipal do Seixal.
À semelhança da 1ªSessão, o próximo encontro inclui uma exposição de modelos em construção, um workshop e uma conferência sobre modelismo e arqueologia naval. Para apresentar peças à exposição e participar nos trabalhos de formação é necessário realizar uma inscrição prévia, sem custos, por e-mail, para carlos.montalvao@cm-seixal.pt , indicando nome, contactos e identificação do modelo a apresentar.
Os participantes são convidados a inscrever-se num almoço de confraternização, sendo que a refeição terá ementa e preço fixo previamente comunicado aos eventuais interessados. A agenda formal dos trabalhos da Sessão do Ateliê “Modelismo e Arqueologia Naval” será oportunamente  divulgada.
Como referia um dos participantes no final dos trabalhos, “… este género de iniciativas prova que o Ecomuseu Municipal do Seixal é, neste momento, uma instituição de dianteira no fomento e no aproveitamento do modelismo naval enquanto instrumento privilegiado para o estudo, preservação e promoção do património náutico….”                 
Carlos Montalvão, 8 de Dezembro de 2010
Uma audiência interessada em partilhar experiências e saberes.
O tema da apresentação teórica deste Ateliê esteve a cargo do autor destas linhas, que apresentou uma comunicação intitulada: Pensar e conceber uma nau para a Carreira da Índia na viragem do século XVI para o século XVII. Esta apresentação condensa as conclusões da dissertação de mestrado em História Marítima defendida em Janeiro de 2010 na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com o título O Livro da Fabrica das Naos de Fernando Oliveira. Princípios e Procedimentos de Construção Naval.
Vistas largas sobre os participantes, destacando os comandantes Ferdinando Oliveira Simões e António Costa Canas bem como antigos, novos e futuros alunos dos nossos cursos de modelismo. É nosso objectivo que estes ateliês continuem a congregar um número cada vez maior de especialistas e de amadores das problemáticas marítimas.
João Figueiredo partilhando os procedimentos utilizados na construção da estrutura do seu lugre-patacho Gazela 1º. O João é aluno do 3º Curso de Iniciação e Desenvolvimento em Modelismo Naval e, no âmbito das actividades do mesmo, está a construir uma muleta do Seixal. Com o que aprendeu entretanto, decidiu abraçar o projecto de construção do famoso navio da pesca do bacalhau, recuperando assim um sonho de longa data.  Aguarda-se pelo desenvolvimento deste trabalho na próxima edição do Ateliê de 12 de Março de 2010.
Estas iniciativas são uma excelente oportunidade para conhecer pessoas que abraçam a mesma arte e paixão. Permito-me destacar, entre os participantes, a D. Luciana Casanova, artesã de modelismo naval que trabalha no Ecomuseu Municipal. 
Ao fundo, o Director do Ecomuseu Municipal do Seixal, Dr. Jorge Raposo, regista, para memória futura, uma mesa “recheada” de barcos construídos ou em construção. Aqui repousam, em modelo, 5 séculos da grande epopeia náutica da humanidade desde a pequena chata do Seixal, construída por Carlos Guerreiro, até à grande nau de guerra do século XVIII, da autoria de Jorge Rodrigues. 
Uma mostra substancial de barcos que revela também múltiplos estilos e técnicas de construção.
No canto esquerdo, repousando adornadas a bombordo, duas enviadas do Seixal realizadas pelos alunos do 2º Curso de Iniciação e Desenvolvimento em Modelismo Naval, Emílio Bauza e Arlindo Fragoso.
No canto direito da mesa, um Cangueiro construído segundo técnicas artesanais a partir de um bloco de madeira escavado interiormente e moldado exteriormente pelo  nosso colega de trabalho na Oficina do Núcleo Naval do Ecomuseu, Fernando Dâmaso. Pela meia nau de estibordo do cangueiro, apresenta-se a estrutura do Gazela 1º de João Figueiredo. Mais ao centro, a ossada de uma chalupa de pesca produzida pelo autor destas linhas, que resolveu deixar o trabalho incompleto para que se possa apreciar a arquitectura construtiva deste tipo de embarcações tradicionais. Segue-se, pelas amuras de estibordo da chalupa, o modelo à escala 1/75 do galeão S. Paulo, que o Jorge Rodrigues está a construir no Núcleo Naval, ao abrigo do Programa Complementar de Formação em Modelismo Naval. Pela alheta de estibordo da mesma chalupa, a Nau Nossa Senhora da Conceição, do mesmo autor.
Junto ao pilar central da oficina, Pedro Barata partilha pormenores construtivos da sua canoa da picada à escala 1/7. No centro da mesa, um flutuador para um protótipo navegante à vela, com telecomando, da autoria do Comandante Jorge Rocha, que é também aluno do 3º Curso de Iniciação e Desenvolvimento em Modelismo Naval. No fundo da mesa, a fragata francesa do século XVIII, Sirene, do nosso aluno Nelson Anjos, tem pela proa um modelo em construção, pelo Fernando Maia, da Nau Nossa Senhora da Conceição.
Muletas em construção produzidas pelos alunos do 3º Curso de Iniciação e Desenvolvimento em Modelismo Naval. Três muletas alinhadas ao centro, ainda em fase de aplicação do segundo forro, têm pela popa uma muleta em fase mais adiantada de produção com o forro do convés já colocado. Vê-se aqui também o modelo do varino “Amoroso” da Câmara Municipal do Seixal, construído pelo nosso aluno Nelson Anjos. O varino, ainda em construção, tem já mastro, escoteiras e revela no interior, vários braços ligados às cavernas. 
Modelo de uma caravela redonda de entre meados do século XV a XVI. Obra original da autoria de José Manuel Faria de Oliveira.
Modelos de canoas da picada, ainda em construção, pelos alunos do 1º Curso de Iniciação e Desenvolvimento em Modelismo Naval, José Arnedo e Carlos Dias. 
Barcos em construção, cumprindo um dos objectivos principais deste encontro: Partilhar, com outros construtores, o que se está a fazer e o que se vai continuar a fazer. Muletas adornadas com grampos de fixação, peças soltas no interior , estruturas de cascos com a cola ainda a secar… são sinais evidentes da dinâmica modelística.
Enviadas do Seixal produzidas pelos alunos do 2º Curso de Iniciação e Desenvolvimento em Modelismo Naval, Arlindo Fragoso e Emílio Bauza.
O excelente trabalho de pintura produzido pelo Pedro Barata, neste modelo de uma fragata do Tejo, faz toda a diferença e enobrece substancialmente a construção original realizada a partir de um kit da extinta, mas saudosa, Arte Naval.
Nau Nossa Senhora da Conceição, a partir de um kit da Altaya. Um excelente trabalho produzido pelo nosso aluno Jorge Rodrigues.
Modelo da fragata Sirene, construída à escala 1/75 a partir de um kit da Corel pelo nosso aluno Nelson Anjos. Trata-se de um trabalho cuidado a provar que a opção pela construção a partir de kits pode ser uma boa solução quando não se tem uma oficina à mão para produzir as peças de raiz.
Canoa da picada à escala 1/7 em construção, da autoria do Pedro Barata. É a irmã gémea da peça que se apresenta de seguida e ficámos todos a sonhar com o dia em que esta e a outra canoa da picada poderão competir em regatas frente ao Núcleo Naval do Ecomuseu Municipal do Seixal. 
Modelo navegante telecomandado de uma Canoa da picada, à escala 1/7, produzida pelo Carlos Mariano. A peça, de excelente qualidade técnica e artística,  tem 1,4 metros de comprimento e o penol da verga eleva-se quase 2 metros acima da linha de água. Depois de tesar os colhedores dos ovéns da catita, o autor  procedeu à aparelhagem completa da embarcação explicando sequencialmente todos os procedimentos utilizados na aparelhagem destes barcos.
Roda de proa e talabardão com remates de protecção em latão. Friso decorativo do barbado de estibordo.  Tampa da escotilha do rancho de proa. Cadernal do aparelho de força usado para içar a verga. Vela com panos cozidos com duas costuras. Tralha circundante da vela…
Mastro e botaló da catita, com acessórios e cabos de manobra e fixação…
Cana do leme, com ferragens de fixação e reforço…